COMPORTAMENTO
beatriz fleming
renato lopes
A curiosidade humana ainda aguça a procura por previsões e direcionamentos

foto: taynara rios
A Feira Mística é realizada quatro vezes por ano em São Paulo, no Clube Homs.
Você já procurou saber o que ia acontecer na sua vida em um futuro próximo ou em longo prazo? Então, faz parte dos 42% de brasileiros que acreditam na astrologia, segundo a pesquisa inédita apresentada no XI Congresso de Medicina e Espiritualidade (MEDNESP).
“A necessidade de saber o que vai acontecer no futuro sempre existiu na humanidade. Eu considero isso como uma curiosidade humana. Hoje, mudou o jeito de se buscar, mas ainda tem a ver com a necessidade de descobrir os mistérios da vida”, conta a psicóloga Lídia Schwarz.
Michel de Nostredamus é um grande exemplo de como não é de hoje que a profecia, vidência e capacidade de prever o futuro estão presentes na nossa vida. Nascido na França em 1503, Nostredamus previu grandes acontecimentos históricos, como o aparecimento de Adolf Hitler e Napoleão Bonaparte e, em um passado recente, os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, em Nova York.
Mesmo depois de seis séculos, a curiosidade humana ainda aguça a procura por previsões e direcionamentos para o futuro. Borra de café. Bola de Cristal. Búzios. Tarot. São várias opções e um objetivo: conhecer o desconhecido.

"
Nós não controlamos nada, não controlamos muito do nosso presente, quanto mais o nosso futuro.
"
Uma das principais características das pessoas que procuram saber o futuro é o anonimato. Muitas não querem compartilhar quem são e nem quais foram suas experiências em consultas por medo do julgamento dos outros pela escolha desse tipo de ajuda. Perfis como esse podem ser encontrados em grande número na Feira Mística, por exemplo. O evento é realizado quatro vezes por ano em São Paulo e reúne expositores, oráculos e palestras que misturam religiões e rituais espirituais das mais variadas origens. Como é o caso das personagens Júlia Nascimento, Heloisa Fabri e Maria Tereza.
Júlia Nascimento, 61, esteve na edição de setembro da Feira para uma consulta. “Eu queria ampliar o meu universo de conhecimento e me consultei com uma cartomante que faz a leitura de baralho cigano, diferente do que eu sempre acreditei”, conta. Lídia Schwarz explica essa necessidade como uma fantasia de que as pessoas podem ter algum controle sobre o futuro. “Nós não controlamos nada, não controlamos muito do nosso presente, quanto mais o nosso futuro”, diz Lídia.
Para Heloisa Fabri, que também marcou presença no evento, a previsão funciona quando existe uma “química” entre cliente e cartomante. Segundo ela, outro fator que influencia para que os direcionamentos aconteçam é a mentalidade mais madura. “Antes eu acreditava em tudo que falavam, mas agora eu ouço com mais atenção e maturidade”, explica.
Durante a consulta, Heloisa busca se sentir psicologicamente equilibrada, com um direcionamento em sua vida de uma forma espiritual. Para ela, saber sobre as coisas ruins é o mais importante. “É o que mais me dói, eu preciso tirar isso de mim e a consulta me ajuda”, diz. Mas, segundo o estudo publicado pela American Psychological Association, que analisou mais de duas mil pessoas, mais de 85% dos participantes não querem saber de futuros negativos, como a morte ou o término de um relacionamento.

Para a psicóloga Lídia, a personalidade dessas pessoas que vai determinar como elas devem lidar com as previsões. Há pessoas que ficam ansiosas, tensas e até mudam seu comportamento, facilitando para que a previsão aconteça. “Uma pessoa amadurecida pode pensar: se acontecer, tudo bem. Se não acontecer, tudo bem também”, comenta.Já alguém que tem a personalidade mais frágil e imatura pode ser influenciada e ter problemas emocionais em função disso. Como é o caso da aposentada Maria Tereza, que estava na Feira Mística.
Segundo ela, a única vez que se consultou como uma cartomante, teve direcionamentos e previsões ruins e ficou com medo de se consultar novamente, mesmo se essas previsões não acontecessem. “É algo que não saiu da minha cabeça, me causou um sofrimento psíquico muito grande”, diz.
Para a professora de tarot, Micherlotta Najara, 37, os oráculos não erram. O tarot, por exemplo, oferece direcionamentos para o futuro, e às vezes quem se consultou erra em não seguir os aconselhamentos. “A questão do erro também vai do oraculista, ele precisa estar em conexão com as cartas e interpretá-las da maneira certa”, complementa.
O quanto há de verdade por trás do mito é difícil de dizer. Nostredamus é um dos casos mais famosos do que se define como uma pessoa com a capacidade de prever os acontecimentos do futuro, mas também errou algumas de suas previsões, como quando disse que aconteceria uma Terceira Guerra Mundial em 1999. Esse é um dos grandes dilemas de quem procura por esse tipo de ajuda. Dilema esse, com que Lídia procura ajudar utilizando da reflexão: “Tento fazer com que a pessoa pense no porquê ela está buscando alguém para falar sobre seu futuro. Sendo que no final, a decisão é a pessoa que vai tomar”.
AS LINHAS DO FUTURO
O FUTURO A UM TOQUE
